Mais se beneficia quem melhor serve.” Mais do que um lema, essa frase do Rotary
International traduz uma filosofia que ultrapassa o campo do voluntariado: ela nos convida a repensar o nosso trabalho, as relações interpessoais e o papel que desempenhamos na sociedade.
Participar de uma ação voluntária é, muitas vezes, reencontrar o sentido original do porquê escolhemos nossas profissões. Em meio às rotinas, prazos e metas, o voluntariado devolve o olhar humano ao profissional. Ele nos lembra que cada conhecimento técnico, seja um projeto arquitetônico, uma ação educacional, um prato preparado para doação, uma campanha de comunicação ou um atendimento de saúde, pode se tornar um instrumento de transformação quando guiado pela empatia.
Ainda no contexto do trabalho, a experiência voluntária também desperta novas habilidades. Ao lidar com realidades diversas e recursos limitados, o profissional aprende a improvisar, a se comunicar melhor, a trabalhar em equipe e a enxergar soluções criativas. O ambiente de serviço à comunidade é, por natureza, um espaço de aprendizado compartilhado em que todos têm algum valor a agregar.
O voluntariado mudou profundamente a forma como enxergo o mundo e, consequentemente, como exerço minha profissão. A cada projeto coletivo, percebi que doar tempo e conhecimento é, na verdade, um processo de troca. O serviço comunitário me ensinou a escutar com mais atenção, a olhar o outro com empatia e a reconhecer o poder que pequenos gestos têm de transformar realidades.
Como arquiteta e urbanista, sempre acreditei que o espaço é um reflexo da sociedade. Mas foi nas ações sociais do Rotaract e do TaliesEM que entendi que o inverso também é verdadeiro: a sociedade se reflete nos espaços que escolhe construir. Ao participar de mutirões em escolas, eventos comunitários e iniciativas sociais, vi como o desenho de um ambiente pode fortalecer vínculos, resgatar o pertencimento e devolver dignidade aos seus usuários.
Essas experiências despertaram em mim uma visão mais humana da profissão. O trabalho técnico ganhou novos significados quando passou a dialogar com o afeto, com a escuta e com a coletividade. Descobri que ser arquiteta não é apenas projetar estruturas, mas criar pontes entre pessoas, territórios e sonhos.
E é justamente essa transformação que me inspira a escrever este artigo: o desejo de mostrar que o voluntariado não é apenas uma ação assistencialista, mas uma forma de aprendizado constante. Ele é uma vida de mão dupla que amplia horizontes, desperta propósitos e convida profissionais de todas as áreas a perceberem que, quando nos colocamos a serviço do outro, também reconstruímos a nós mesmos.
O voluntariado transforma não apenas o território onde atua, mas o próprio ser humano por trás dele. Ele fortalece o propósito, desperta a sensibilidade social e convida à prática de uma ética que ultrapassa o mercado, uma ética do cuidado, da presença e da colaboração. O voluntariado é um espelho que reflete o melhor de cada um de nós. Ele nos mostra que conhecimento sem empatia é incompleto e que o verdadeiro impacto do trabalho está nas pessoas que tocamos ao longo do caminho.
O Recreio da Juventude reforça a ideia de que cada colaborador ou associado pode exercer a participação social dentro de seu próprio campo de atuação e a partir de suas experiências de vida. A própria gestão do clube é formada por pessoas que se disponibilizam de forma voluntária, dedicando tempo, conhecimento e compromisso em prol do coletivo.
Essa postura evidencia que o servir não se restringe a ações pontuais de solidariedade, mas se manifesta na responsabilidade cotidiana, no zelo pelo patrimônio, na promoção da cultura e no incentivo ao esporte, à convivência e à disciplina. É nesse espírito que o clube se consolida como um espaço vivo de cidadania, onde o benefício maior está justamente em contribuir para o bem comum.
Com esse ideal de união, inspiração e transformação, o Recreio da Juventude deu início, em maio de 2024, às ações do Projeto Casulo. O objetivo do projeto é desenvolver ações que promovam melhorias e façam a diferença para a comunidade na qual o clube está inserido, especialmente nas áreas social e esportiva. Por meio desse trabalho, o Casulo busca também o desenvolvimento pessoal de todos os envolvidos, voluntários, associados e colaboradores, incentivando a liderança, o protagonismo e a responsabilidade social.
Como profissionais, podemos transformar nossa prática quando ela é guiada por um propósito. E, como cidadãos, descobrimos no voluntariado um espaço de encontro, com o outro e com nós mesmos. Cada ação, por menor que pareça, é uma forma de projetar o mundo que queremos habitar e deixar de herança para as próximas gerações. Por isso, deixo aqui um convite: que cada um de nós, arquitetos, engenheiros, comunicadores, educadores, designers, profissionais da saúde, administradores, advogados, artistas, técnicos, estudantes e trabalhadores de todas as áreas, se permitam viver a experiência do voluntariado. Que possamos sair das nossas zonas de conforto e colocar nossos talentos a serviço de quem mais precisa. Quando nos unimos em torno de um bem comum, descobrimos que o verdadeiro valor do trabalho não está apenas no resultado final, mas no caminho percorrido juntos.
E é nesse encontro, entre técnica e generosidade, que encontramos o sentido mais bonito de ser profissional: construir, com as próprias mãos e o próprio coração, um mundo mais humano.

