Mais que um Atleta Olímpico: a Jornada para Ser um Olimpiano
Tem uma frase do Pierre de Coubertin, o criador dos Jogos Olímpicos modernos, que sempre me provoca quando penso sobre o verdadeiro sentido do esporte. Ele dizia:
“Quando o atleta deixa de colocar o prazer no próprio esforço acima de tudo, e se deixa dominar pela vaidade ou pelo interesse próprio, seus ideais se corrompem, e seu valor como exemplo educativo diminui.”
Essa frase carrega uma força impressionante. Ela fala sobre algo que vai além do treino, do resultado e da medalha. Fala sobre a essência do esporte. Coubertin acreditava que o atleta não era apenas alguém que competia, mas era alguém que representava uma filosofia de vida. Para ele, o atleta olímpico deveria ser um tipo de embaixador do Olimpismo, alguém que inspira e educa por meio do seu exemplo, da forma como enfrenta os desafios, vence ou perde.
Mas quando olhamos para o cenário atual, percebemos um paradoxo. Existe uma distância entre o atleta que participa dos Jogos Olímpicos e aquilo que deveria representar um verdadeiro Olimpiano.
Hoje, o esporte vive uma tensão constante entre valores e resultados. A alta performance cobra caro. As pressões externas, os contratos, as expectativas e o imediatismo das redes sociais empurram o atleta para um lugar de constante cobrança e comparação. Em meio a tudo isso, o sentido mais profundo do esporte, aquele que forma caráter, que ensina virtude e que eleva o ser humano, muitas vezes se perde.
O atleta olímpico, nesse contexto, é aquele que vive para a competição. Ele busca superação, desempenho, performance. Isso é legítimo e admirável. O problema é quando esse foco absoluto em vencer faz com que ele se desconecte do “porquê” começou a competir. Quando o resultado se torna o único objetivo, e o prazer pelo esforço, pelo treino, pela construção diária, desaparece.
Do outro lado está o Olimpiano, uma figura que simboliza algo mais profundo. O Olimpiano é o atleta que compreende o esporte como uma escola de valores. Ele busca a vitória, óbvio, mas entende que o processo importa tanto quanto o resultado. Que o jeito de competir revela quem você é. O Olimpiano leva consigo os princípios de respeito, amizade, superação e integridade, dentro e fora das quadras.
Ser Olimpiano é ter consciência de que a medalha pode até definir o pódio, mas não define o valor humano. É entender que a grandeza esportiva não se mede apenas em títulos, mas na forma como você trata os outros, como reage diante da derrota, como lida com a frustração e como segue evoluindo mesmo quando ninguém está vendo.
O esporte, em sua essência, foi criado para unir, educar e inspirar. Mas o que se vê muitas vezes é o oposto: atletas sendo moldados apenas para performar, não para pensar; para executar, não para compreender; para vencer, e não necessariamente para crescer. Esse é o paradoxo do esporte moderno.
Coubertin acreditava que o esporte tinha um papel moral e educativo. Ele via nos Jogos Olímpicos uma forma de desenvolver o caráter humano, de despertar virtudes como disciplina, coragem, humildade e solidariedade. O Olimpiano, nesse sentido, é aquele que entende que o treino é também um exercício de autoconhecimento. Que cada vitória e cada derrota são oportunidades de crescimento pessoal.
Infelizmente, o que se vê com frequência é um desvio desse propósito. Muitos atletas se perdem no meio do caminho e não por falta de talento, mas por falta de clareza de sentido. Quando o prazer pelo processo desaparece, o atleta se torna refém do resultado. Quando a vaidade e o ego tomam conta, a essência do Olimpismo se perde.
Por isso, essa reflexão é um convite para qualquer atleta, técnico ou profissional que viva o esporte de verdade. É um chamado para voltarmos ao centro, para reencontrar o motivo original da essência do esporte olímpico que é o ápice do propósito de ser atleta. O esporte pode ser um caminho de glória, sim, mas antes de tudo ele deve ser um caminho de virtude.
Ser Olimpiano é competir com propósito. É entender que a vitória não está apenas no resultado, mas na forma como você conduz o processo. É buscar o equilíbrio entre a ambição de vencer e a humildade de aprender. É saber competir com intensidade, mas também com respeito.
No fim das contas, talvez o grande desafio do esporte nos dias de hoje seja resgatar esse espírito. Fazer com que cada atleta perceba que o verdadeiro legado não está na quantidade de medalhas, mas na qualidade da mensagem que ele deixa. Porque a medalha um dia “perde o brilho”, mas o exemplo permanece.
Então, talvez a pergunta que a gente precise fazer hoje não seja:
“Você é um atleta olímpico?”
Mas,
“Você está buscando desempenhar como um verdadeiro Olimpiano?”
E essa resposta não vem das pessoas, nem do treinador, nem dos meios de comunicação.
Ela vem de dentro, do lugar onde o esporte realmente começa: o coração do atleta.
